terça-feira, 30 de agosto de 2011

Jeneve, pirulito de tabuleiro, roleto de cana, maçã do amor, quebra-queixo, sorvete de casquinha, ideal e raspadinha. Você se lembra?

Este mês resolvi compartilhar as minhas memórias. As memórias relacionadas às cores, cheiros e sabores da minha infância. A primeira que lembrei rapidamente foi do cor-de-rosa do refrigerante Jeneve, ou melhor, “Cola Jeneve”. Alguém aí lembra? Pois é, o Jeneve era o primo pobre do refrigerante Jesus. A garrafinha cheia de pingos em alto relevo era o cheiro da merenda e do meu recreio na escola. Imbatível perante os concorrentes. Quando tinha bastante dinheiro merendava Jeneve com misto quente, mas se a grana estava curta, o refrigerante vinha acompanhado de um pastel árabe (não entendia e achava o nome tão engraçado na época!).

O Jeneve se foi e o “Cola Jesus” reina em terras maranhenses e de forma absoluta em São Luís. É um ícone da nossa cultura e para nossas crianças. A garrafinha retrô e o cor-de-rosa bem acentuado ainda é um marco de tempos antigos. Para os turistas, uma incógnita, assim como causa estranheza a muitos, o sabor exageradamente doce da mistura de cravo e canela. A nacionalização do nosso Jesus, fato bem recente em nossas vidas, é mais uma tentativa de termos o Maranhão protagonizando algumas passagens do dia a dia dos brasileiros. Coisas para o futuro!

Também lembrei dos pregoeiros com suas tábuas de pirulito ou pirulitos de tabuleiro. Basta fechar os olhos e lá vem o vendedor gritando seus pregões e nós, crianças, correndo ao seu encontro para abocanhar um “conezinho” com o papel grudado. Acho que o que nos fazia chupar aqueles pirulitos, além do sabor, era o desafio de arrancar o papel manteiga até achar o docinho do açúcar, isso quando o desafio não se transformava em tirar o restinho do pirulito dos dentes. Ninguém escapava dessa!

Outro que teimava em grudar em nossos dentes era o quebra-queixo, outra delícia esquecida em nosso cotidiano... Como sinto saudade dessas iguarias! Ir à Rua Grande e não comer quebra-queixo era como sentar numa lanchonete e não tomar Jeneve ou Jesus. Os vendedores já deixavam as porções e os papeizinhos cortados. Era só chegar, pagar com uma moeda e sair comendo aquele doce de coco com açúcar caramelizado. Hoje, só lembro de um senhor na Praia Grande (beco Catarina Mina) que insiste em vender e perpetuar parte de nossa história. Salve, salve.

Ainda nesse passeio pela minha infância, ressalto a raspadinha, o roleto de cana, a maçã do amor, o sorvete de casquinha, a pamonha e o ideal. Desses ninguém lembrava!

A raspadinha era o que tínhamos de mais refrescante: gelo raspado com uma maquininha manual e suco doce super concentrado. Os meus preferidos sempre foram de côco e de tamarindo. Quer saber onde tem?
Na Praia Grande, das 8h às 14h em frente à Casa das Ferragens (outra boa lembrança...). Por R$ 4,00 você se lambuza numa rapadinha de primeira. O Sr. que vende está lá, faça chuva ou faça sol.

A lembrança do roleto de cana vem junto com o São João, que tinha cheiro de bombinha e de maçã do amor. As porções de roleto de cana eram vendidas em pratinhos com os palitinhos feitos da casca da própria cana. Geralmente vinham seis e como eu gostava...

Antes de irmos pro arraiá mamãe avisava logo: - Não vai manchar a roupa nova de maçã do amor, heim!
E lá estava eu, toda cuidadosa para poder comer mais uma e mais uma...

O sorvete de casquinha, bom, esse merece um destaque especial. Primeiro pela casquinha, que não há no mundo nada igual. Você pode ter a sorte de ir nas melhores sorveterias do Brasil e do mundo, mas aquela casquinha, que para nós crianças, era melhor que o sorvete, você não vai encontrar, desista! Era crocante, docinha e comíamos até o final. Eram mal acondicionadas, é verdade, em latas de querosene acopladas às caixas de isopor. Mas quem ligava pra isso? As caixas de isopor por sua vez, eram protegidas por um suporte de madeira, que os vendedores levavam na cabeça, suavizadas por rodilhas de pano. O vendedor de sorvete de casquinha era uma figura importante para nós, era com ele que estava a melhor sobremesa da época. Lembro muito do sorvete de côco e de maracujá.

Bola de sorvete? Jamais! O sorvete era posto em colheradas e como o dia ficava bom depois daquelas lambidas... Ainda é possível encontrar pelo Centro Histórico...

Por fim, acordava para ir à escola com os gritos do vendedor de Ideal em nossa porta: “ideal, ideal, ideal”.

Às 16h ele voltava e nos lembrava que já era hora de “banhar” e terminar com a brincadeira na rua. Ideal é um cuscuz pequeno e redondinho. Que troço gostoso aquele, meu Deus! De milho e de arroz, também faz parte da minha memória, já que atualmente pouco se fala e pouco se come.

A fábrica ainda existe no João Paulo. Era tão presente na vida dos ludovicenses, que o nome da fábrica se transformou no nome da iguaria. Com um cafezinho, heim?

Com cafezinho também brilhava a pamonha, que tinha no seu pregão “pamóóónha, pamóóónha” a maior lembrança da minha geração. Delícia pura.

Nas férias na casa da minha avó e em tempos de milho, todo domingo tinha pamonha, pois era uma iguaria difícil de fazer. Levava-se muito tempo e nem todo mundo tinha o dom de saber enrolar nas folhas de bananeira... Vovó sabia!

Tempos bons aqueles...

Para relembrar:Merenda = lanche
Banhar = tomar banho
Pregoeiro = vendedor de rua que anunciava seus produtos gritando frases de efeito, geralmente com rimas. Raríssimo hoje no cotidiano da cidade e patrimônio imaterial da cidade.
Arraiá = arraial

Texto: Beatrice Borges - do Blog Ócio, Viagens e Gastronomia.